Segundo uma lenda africana havia um tempo onde viver no mundo era muito triste pois no mundo não haviam histórias. Todas as histórias pertenciam apenas a Nyame, o deus dos céus. Anansi, um velho baixinho e fraco, queria as histórias de Nyame para contar ao povo de sua aldeia. Usando de sua esperteza Anansi conseguiu barganhar e trazer as histórias ao mundo sendo então reconhecido por todos como o deus de todas as histórias.
Em Os Filhos de Anansi Neil Gaiman mistura a lenda africana com o mundo contemporâneo para contar a história dos filhos de Anansi.
Mesclando como ninguém o fantástico com o corriqueiro Neil Gaiman cria uma envolvente, e bem humorada, narrativa na qual acompanhamos a jornada de um homem comum que descobre ser filho de um deus e tem que lidar com os desdobramentos disso.
Assim como em Silmarillion, no qual uma música dá origem ao mundo, em os Filhos de Anansi a música é também responsável pelo mesmo feito, além de ser o veículo pelo qual a magia é muitas vezes trazida ao cotidiano.
Cada pessoa que existiu, existe ou existirá possui uma música. Não é uma música escrita por outra pessoa. Ela tem sua própria melodia, sua própria letra. Poucas pessoas chegam a cantar sua própria música. A maioria de nós teme que não façamos jus a ela com nossa voz, ou que a letra seja muito boba, ou muito franca, ou muito estranha. Então, em vez disso, as pessoas vivem suas músicas.
A forma como o fantástico aparece no texto é simples e fluida: emoções são exageradas ou contidas seguindo a vontade dos personagens, os animais são sempre mais que simples animais, os espaços físicos aumentam, diminuem ou se contorcem de acordo com a necessidade da narrativa.
Viraram-se juntos, para uma direção que nem sempre estivera ali, e caminharam para longe (…)
Uma atração à parte dessa obra são os detalhes. Pequenas informações, que não tem tanta relevância no capítulo onde são citadas, voltam mais tarde de forma inesperada para adicionar mais valor a um ponto futuro da história.
Outro fator que enriquece o livro é o humor inglês. Existem várias passagens bem humoradas como a que transcrevo abaixo (e que lembram tantas outras de outros autores ingleses como essa de Douglas Adams no Guia do Mochileiro das Galáxias).
“Você não serve para nada” disse ao limão. Mas não era justo. Era apenas um limão. Não havia absolutamente nada de especial nele. Ele fazia o melhor que podia.
Neil Gaiman é um grande contador de histórias e Os Filhos de Anansi é um livro que, mesmo não sendo o melhor de seus trabalhos, conta uma história envolvente que não poderia sair da imaginação de outro autor.
Leitura absolutotalmente recomendada!